O 2º tenente Ian Lopes de Lima, de 26 anos, foi afastado do policiamento ostensivo nas ruas da capital paulista após se envolver em sete mortes decorrentes de intervenções policiais em menos de um ano. Ele foi transferido para o setor administrativo do Comando de Policiamento de Área Metropolitano 10, na zona sul de São Paulo.
As mortes ocorreram durante ações da Polícia Militar na zona sul da capital, especialmente em regiões como Capão Redondo, Jardim Ângela e Santo Amaro. A informação foi revelada pelo portal Metrópoles, com base em uma análise de documentos relacionados a 246 mortes causadas por PMs na cidade apenas neste ano — o mais letal da atual gestão estadual.
Abordagem termina com dois mortos
Uma das ações mais recentes aconteceu no dia 24 de março de 2025, quando Ian e outros dois PMs abordaram um carro suspeito, um Hyundai HB20, ocupado por quatro homens, em Santo Amaro. Segundo o relato dos policiais à Polícia Civil, os suspeitos teriam disparado contra a viatura.
Durante o suposto tiroteio, Ian utilizou um fuzil calibre 7.62 e realizou quatro disparos. Um segundo PM usou uma pistola .40, efetuando cinco tiros. Três dos ocupantes foram baleados — dois deles morreram em hospitais da região e o terceiro foi hospitalizado. Apenas um dos mortos foi identificado: Caio Gundin da Silva, de 24 anos.
O quarto suspeito foi preso e levado à delegacia. Após esse episódio, Ian permaneceu mais três meses atuando nas ruas até ser oficialmente afastado. Nossa equipe teve acesso ao vídeo que mostra a reportagem do jornal Metrópoles. Confira o vídeo.
Vídeo: YouTube Metrópoles
Início da carreira e alta letalidade
Ian ingressou como oficial da PM no início de 2024. Em abril do mesmo ano, apenas quatro meses depois, já comandava o policiamento noturno do 37º Batalhão Metropolitano, com atuação em áreas de alta vulnerabilidade social.
Sua primeira ocorrência com morte foi registrada em abril, no Jardim Ângela, quando Marcos Aurélio Gomes Ferreira, de 31 anos, foi baleado e morto após, segundo os policiais, tentar agredi-los com uma barra de ferro durante um surto psicótico. De acordo com os PMs, uma arma de choque não foi utilizada por estar na viatura.
Das sete vítimas associadas às ações do tenente Ian, quatro não teriam atirado contra os policiais, conforme apontado na apuração. Ao todo, os agentes que atuaram com ele nessas ocorrências realizaram 47 disparos, sendo 11 atribuídos a Ian.
PM se pronuncia
Em nota, a Polícia Militar do Estado de São Paulo declarou que não tolera desvios de conduta e destacou que todas as mortes causadas por PMs são investigadas com acompanhamento da Corregedoria e do Ministério Público.
A corporação informou ainda que, desde o início da atual gestão estadual, 463 policiais foram presos e 318 foram demitidos ou expulsos. A PM também afirmou investir em capacitação contínua, treinamento técnico e uso de equipamentos de menor potencial ofensivo, como tasers e armas de incapacitação neuromuscular, para reduzir a letalidade policial.
A defesa do tenente Ian Lopes não foi localizada pelo jornal Metrópoles até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.