Uma onda de intoxicações por bebidas alcoólicas adulteradas com metanol provocou, nas últimas semanas, ao menos 28 mortes na Rússia e no Brasil, acendendo o alerta de autoridades sanitárias e de segurança pública nos dois países. O caso mais grave ocorreu na região de São Petersburgo, na Rússia, onde 25 pessoas morreram após consumir vodca contaminada.
Segundo a agência russa Ria Novosti, pelo menos oito mortes tiveram a causa confirmada como intoxicação por metanol – um tipo de álcool industrial altamente tóxico. Outras vítimas apresentaram níveis elevados da substância no organismo, de acordo com exames periciais. Há ainda uma pessoa internada em estado grave.
As investigações apontam que as bebidas foram produzidas e distribuídas por vendedores não autorizados, em locais improvisados e sem qualquer controle sanitário. A promotoria local afirmou que o envenenamento ocorreu após o consumo de bebidas falsificadas no distrito de Slantsy.
Até o momento, 14 pessoas foram presas. Entre elas, uma professora de jardim de infância de 60 anos e um aposentado de 78, suspeitos de fabricar e vender os produtos ilegais. Segundo a emissora russa REN TV, a professora fornecia o álcool, enquanto o homem produzia e engarrafava a bebida em um local improvisado. Durante buscas, foram apreendidos mais de 1.300 litros de bebidas adulteradas.
Três processos criminais foram abertos, e as autoridades locais intensificaram as buscas em pontos de venda e armazenamento das bebidas.
Casos também no Brasil: três mortes em São Paulo
A ameaça atravessou fronteiras. No Brasil, o Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do Estado de São Paulo confirmou neste sábado (27) três mortes causadas por ingestão de bebida contaminada com metanol. Segundo o órgão, desde junho foram registrados seis casos confirmados de intoxicação pela substância e outros 10 estão em investigação — todos na capital paulista.
As vítimas fatais foram um homem de 54 anos, morador da zona Leste da capital, e outros dois de 38 anos, e 58 anos, ambos de São Bernardo do Campo. Todos apresentaram sintomas após consumirem bebidas alcoólicas em contextos sociais, como bares e festas, conforme relataram familiares.
Os casos de São Bernardo está sob investigação no 2º Distrito Policial da cidade. Já o falecimento na capital é investigado pelo 48º DP de Cidade Dutra, que apura também outros casos de possível intoxicação. Exames periciais foram solicitados para confirmar as causas.
Alerta nacional: bebidas falsificadas em circulação
O Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) de Campinas, referência no estado, notificou a Secretaria de Saúde sobre os casos, considerando o número elevado para um curto período e o desvio do padrão habitual de intoxicações por metanol.
“O que chama atenção é que os episódios não ocorreram entre populações vulneráveis ou em contextos de abuso deliberado de substâncias, como era mais comum”, diz a nota do Ciatox. “Os casos recentes aconteceram em ambientes sociais comuns, com consumo de bebidas variadas — gin, whisky, vodca — indicando possível contaminação intencional ou adulteração em larga escala.”
A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), do Ministério da Justiça, também emitiu alerta sobre a circulação de bebidas falsificadas, reforçando a importância de que a população compre apenas produtos de estabelecimentos confiáveis e com registro fiscal.
O que é metanol?
O metanol é uma substância líquida, incolor, inflamável e altamente tóxica. Sua ingestão, mesmo em pequenas quantidades, pode provocar cegueira, coma e até morte.
No organismo, o metanol é metabolizado em formaldeído e ácido fórmico, compostos extremamente tóxicos que afetam o sistema nervoso central e causam acidose metabólica, confusão mental, convulsões e outras complicações graves. A dose mínima letal é estimada em 80 gramas, mas os efeitos adversos podem surgir com quantidades menores.
Em bebidas alcoólicas, sua presença indica adulteração grave e pode levar a morte.
Como se proteger
As autoridades de saúde orientam os consumidores:
- Evitem comprar bebidas de vendedores ambulantes ou locais sem registro;
- Verifiquem a integridade do lacre e do rótulo da garrafa;
- Denunciem suspeitas de adulteração à Vigilância Sanitária ou à polícia.
Abrasel recomenda suspensão da venda de bebidas suspeitas em São Paulo
A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) emitiu, nesta segunda-feira (29), uma nota orientando que bares e restaurantes do estado de São Paulo suspendam a venda de bebidas alcoólicas com indícios de adulteração.
A recomendação reforça o alerta do Ministério da Justiça e destaca que preços muito baixos, lacres danificados, erros de impressão nos rótulos e odor semelhante a solventes devem ser considerados sinais claros de adulteração.
Segundo a entidade, a falsificação de bebidas representa um crime grave contra o consumidor, colocando em risco a saúde pública e prejudicando diretamente estabelecimentos comprometidos com a legalidade e a segurança alimentar.
Mortes por possível ingestão de metanol
Até o momento, três mortes foram confirmadas em decorrência da ingestão de bebida alcoólica supostamente contaminada com metanol, substância altamente tóxica e potencialmente letal.
Dois casos ocorreram em São Bernardo do Campo:
Um homem de 58 anos faleceu em 24 de setembro, após atendimento no Hospital de Urgência.
O segundo óbito, confirmado nesta segunda-feira (29), é de um homem de 45 anos que morreu no domingo (28) e foi atendido na rede privada de saúde.
Os exames toxicológicos estão sendo realizados pelo Instituto Médico Legal (IML) para confirmar a presença de metanol. A Polícia Civil já havia confirmado anteriormente um caso de morte na capital, na região da Mooca.
Alerta do Ministério da Justiça
Diante do registro de nove casos de intoxicação por metanol nos últimos 26 dias – com três mortes confirmadas – o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) emitiu uma recomendação urgente aos estabelecimentos de São Paulo e regiões vizinhas.
A nota técnica do MJSP ressalta a necessidade de uma ação conjunta entre governo, setor privado e sociedade para combater a falsificação de bebidas. Recomenda-se a compra segura, com verificação da procedência e rastreabilidade dos produtos comercializados.
A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo também informou que outros 10 casos estão sendo investigados na capital paulista por suspeita de intoxicação após o consumo de bebidas adulteradas.
Possível relação com o crime organizado
De acordo com a ABCF (Associação Brasileira de Combate à Falsificação), as intoxicações podem estar ligadas ao fechamento recente de distribuidoras e formuladoras de combustíveis envolvidas com o crime organizado, que importavam metanol de forma fraudulenta para adulteração de combustíveis.
A entidade aponta que, diante da proibição de operação dessas empresas e com os tanques ainda cheios de metanol, é possível que o material tenha sido desviado para destilarias clandestinas ou quadrilhas especializadas na falsificação de bebidas, resultando em lucros ilegais milionários à custa da saúde da população.
Nota oficial da Abrasel
“A Abrasel manifesta profunda preocupação com os casos de intoxicação por metanol registrados em São Paulo durante o mês de setembro. A entidade se solidariza com as famílias das vítimas e deseja pronta recuperação aos demais afetados.
A falsificação de bebidas é um problema de saúde pública, que exige ação coordenada entre autoridades, setor produtivo e sociedade civil. Reforçamos a orientação para que os estabelecimentos adquiram bebidas exclusivamente de distribuidores reconhecidos e confiáveis. Também alertamos para o impacto negativo da alta carga tributária, que, segundo o advogado e especialista Percival Maricato, “estimula o contrabando e a falsificação, ampliando os riscos à saúde e à segurança dos consumidores”.
Para o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, “o combate ao abuso de álcool deve ocorrer por meio da educação e conscientização, e não por medidas que penalizam o consumidor e incentivam práticas ilegais. As novas gerações já demonstram uma tendência clara à moderação, o que é uma conquista da educação”.
Por fim, reforçamos a recomendação do Ministério da Justiça: diante de qualquer suspeita, bares e restaurantes devem suspender imediatamente a venda da bebida e acionar as autoridades competentes.”