A noite de sexta-feira (10) para sábado (11) foi a primeira em muitos meses sem o som dos bombardeios na Faixa de Gaza. Com o início do cessar-fogo, o clima de pânico e terror deu lugar a um breve alívio — embora a destruição ao redor mantenha viva a dor do conflito que já deixou mais de 67 mil mortos.
Cena sinistra de destruição
Os moradores da região, marcados por perdas irreparáveis, começam lentamente a retornar às suas casas, ou ao que restou delas. Entre ruínas e memórias, buscam sobreviventes, enterram os mortos e tentam reconstruir suas vidas. Para muitos, o silêncio da noite foi tão estranho quanto reconfortante.
Vítimas da guerra
O médico palestino Mohammad, que atua em um hospital local, relatou que, pela primeira vez em meses, não houve a chegada constante de corpos e feridos. Segundo ele, a única movimentação recente é de pessoas sendo resgatadas dos escombros. Estima-se que cerca de 7.000 vítimas ainda estejam soterradas.
Zaher, outro residente de Gaza, contou que passou meses sem dormir tranquilo. Ele e a família deixaram a capital e se refugiaram em Deir al‑Balah. Na noite de sexta-feira, ele pôde caminhar pelas ruas destruídas, cumprimentar vizinhos e, pela primeira vez em muito tempo, sentir um pouco de esperança. “Foi a primeira vez que dormi sem medo”, disse. Agora, Zaher procura uma nova moradia para viver com a esposa e os quatro filhos — uma tarefa difícil, já que os preços dispararam após a destruição de milhares de prédios.
Desde que o cessar-fogo começou, milhares de pessoas voltaram para o norte do enclave, especialmente para a cidade de Gaza. Antes da ofensiva, mais de um milhão de pessoas viviam ali. Hoje, restam apenas cerca de 250 mil. As tropas israelenses recuaram e agora controlam cerca de metade do território da Faixa de Gaza — antes, controlavam 80%. Parte desse recuo visa permitir que as milícias palestinas localizem reféns ainda mantidos em cativeiro para libertação nos próximos dias.
Apesar da destruição e do luto, a esperança começa a ressurgir entre os sobreviventes. Nas ruas ainda cobertas de entulho, crianças voltam a andar, adultos caminham juntos e famílias tentam se reerguer. A paz, ainda que frágil, devolveu por um momento a Gaza o direito de respirar.