O Espírito Santo tem registrado um perfil preocupante entre as vítimas de tráfico humano. De acordo com o Painel sobre Tráfico de Pessoas de 2024, divulgado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), a maioria das vítimas no estado são mulheres e pessoas com menos de 18 anos de idade.
Entre 2017 e 2024, foram feitas 21 denúncias de tráfico de pessoas no território capixaba. Pelo menos 18 dessas denúncias envolvem mulheres, e 15 citam vítimas que são crianças ou adolescentes. O ano de 2024 concentra o maior número de registros até agora, com sete denúncias recebidas de forma anônima por meio do Disque 100, canal do governo federal para a proteção dos direitos humanos.
As denúncias não representam necessariamente o número exato de vítimas, mas indicam um cenário que preocupa autoridades e especialistas em direitos humanos.
Exploração sexual é o principal objetivo
Enquanto o cenário nacional aponta que o tráfico humano ocorre principalmente com fins de trabalho análogo à escravidão — afetando majoritariamente homens — no Espírito Santo a realidade é distinta. O principal objetivo do tráfico no estado é a exploração sexual, prática que recai sobretudo sobre mulheres e adolescentes.
Ainda segundo o painel, foram realizados 189 atendimentos sociais a vítimas de tráfico no estado. O Sistema Único de Saúde (SUS) também notificou 43 casos entre 2017 e 2024. Além disso, a Polícia Federal instaurou 14 inquéritos para apurar casos de tráfico humano no mesmo período. O Ministério Público do Trabalho abriu 20 procedimentos investigativos voltados ao trabalho escravo, enquanto o Ministério Público Federal instaurou cinco investigações.
Rodovias federais concentram pontos de risco
Mesmo sem registro formal de vítimas nas estradas, a Polícia Rodoviária Federal identificou 435 pontos de vulnerabilidade ao longo das rodovias federais que cortam o estado. Esses pontos são locais considerados de risco para exploração sexual de crianças e adolescentes.
Cenário nacional
Em todo o Brasil, o Disque 100 recebeu 857 denúncias de tráfico de pessoas nos últimos sete anos. Em 2024, os principais objetivos do crime foram o trabalho escravo (40,9%), exploração sexual (31,5%), servidão (21,5%) e adoção ilegal (6%).
Os dados nacionais mostram ainda que mais da metade das vítimas atendidas pelo SUS no país são pretas ou pardas — representando 56,6% dos atendimentos registrados em 2024.
No tráfico internacional, destinos como Filipinas, Bélgica e Itália se destacam. Enquanto os países asiáticos concentram casos de vítimas forçadas a trabalhar em plataformas ilegais de apostas, na Europa, o foco é a exploração sexual, com mulheres sendo levadas principalmente para Itália e Bélgica.

Aliciamento pelas redes sociais
O Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas também aponta que a internet tem sido um dos principais meios de aliciamento. Nos casos de exploração sexual, as redes sociais foram citadas em 52% dos registros como o principal canal de recrutamento. Já nos casos com fins de trabalho escravo, o aliciamento é feito majoritariamente por conhecidos ou amigos (28%), seguido pela internet (26%).
Enfrentamento e denúncias
O combate ao tráfico de pessoas exige a integração de políticas públicas, campanhas educativas e ações de repressão. Para denúncias, o canal Disque 100 funciona 24 horas por dia, inclusive aos fins de semana, e garante sigilo absoluto.
Esta reportagem foi elaborada com base nas informações do jornal Folha Vitória e da Agência Brasil.