No primeiro semestre de 2025, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou um novo documento científico que atualiza a definição de febre em crianças. Pela nova diretriz, a febre é reconhecida quando a temperatura atinge 37,5°C ou mais na axila — ou 38°C se medida por via oral ou retal durante três minutos.
A mudança, publicada no documento “Abordagem da Febre Aguda em Pediatria e Reflexões sobre a Febre nas Arboviroses”, segue padrões adotados em estudos internacionais e substitui o antigo parâmetro de 37,8°C.
Por que a classificação mudou
Segundo a SBP, a atualização reflete uma nova compreensão sobre o papel da febre no organismo infantil. O documento ressalta que a temperatura corporal varia naturalmente ao longo do dia — podendo oscilar até 1°C entre manhã e tarde — e que a febre deve ser vista como um sinal fisiológico de defesa, e não apenas como um sintoma de doença.
“O aumento da temperatura corporal não é a doença em si, mas uma forma de defesa natural que avisa que o corpo está lutando contra alguma infecção ou problema”.
explica o pediatra Alexandre Nikolay, coordenador do departamento de emergência pediátrica do Hospital Santa Lúcia Sul, em Brasília.
Além disso, a SBP alerta para o risco da chamada “febrefobia” — a ansiedade excessiva dos pais diante da elevação da temperatura, que pode levar a consultas e uso indevido de medicamentos.
Como medir e interpretar a febre
Para lactentes e crianças pequenas, a medição axilar com termômetro digital continua sendo o método mais indicado. Já os termômetros infravermelhos devem ser utilizados apenas por profissionais treinados.
A entidade reforça que a avaliação do estado geral da criança é mais importante do que o número exato no termômetro. Crianças atentas, bem hidratadas e com bom apetite tendem a ter quadros benignos, mesmo com febre leve.

Causas e papel da febre
O aumento controlado da temperatura corporal é um mecanismo de defesa comandado pelo centro termorregulador do cérebro, que eleva o ponto de equilíbrio térmico para ajudar o corpo a combater vírus e bactérias.
Nem toda elevação da temperatura, porém, é febre. Na hipertermia, o aumento ocorre por fatores externos — como calor excessivo ou atividade física intensa — e não por uma resposta imunológica.
Febres muito altas, acima de 39,5°C, merecem observação mais próxima, pois podem comprometer o funcionamento de enzimas e outros processos metabólicos.
Quando procurar atendimento médico
De acordo com a SBP, os pais devem buscar orientação médica especialmente quando:
- a criança tem menos de 3 meses;
- a febre é persistente ou ultrapassa 39,5°C;
- há sonolência excessiva, convulsões ou dificuldade para respirar;
- ou em casos de doenças crônicas, imunossupressão ou desnutrição.
Comportamento da criança
“O comportamento da criança muitas vezes fala mais do que o número no termômetro. Uma criança prostrada, com dificuldade para respirar ou sinais de desidratação precisa ser vista rapidamente”.
orienta o pediatra Alexandre Nikolay.
Uso de antitérmicos
Medicamentos como paracetamol, dipirona e ibuprofeno devem ser usados apenas quando há mal-estar evidente, irritabilidade ou dificuldade para dormir.
O uso alternado de antitérmicos não é recomendado, pois aumenta o risco de superdosagem sem melhorar o efeito.
Em bebês com menos de um mês, apenas o paracetamol é indicado, com dose ajustada à idade gestacional.
Uma nova forma de lidar com a febre
Com a atualização, a SBP espera reduzir o medo excessivo da febre, evitar consultas desnecessárias e incentivar o manejo mais racional dos sintomas.
Mais do que baixar a temperatura, a prioridade deve ser avaliar o bem-estar e o comportamento da criança, permitindo que o corpo use sua própria capacidade de defesa.
