Uma ocorrência policial registrada nas primeiras horas da madrugada deste sábado (28) no município da Serra gerou grande repercussão nas redes sociais. Câmeras de segurança flagraram uma abordagem da Polícia Militar em frente a um estabelecimento na Avenida Guarani, no bairro das Laranjeiras, em Jacaraípe. Nas imagens, é possível ver agentes imobilizando o dono do local, que, segundo a PM, estava em desacordo com a legislação municipal.
Clima de tensão
O vídeo mostra um policial aplicando um mata-leão em um homem, enquanto outro militar aponta uma arma para uma pessoa que filmava a cena. Em outro momento, uma policial feminina utiliza spray de pimenta contra duas pessoas que estavam na calçada. Uma mulher chega a ser chutada, empurrada e recebe múltiplos jatos de spray no rosto, caindo no chão logo em seguida. Nossa equipe teve acesso ao vídeo que mostra o momento exato do ocorrido. Confira o vídeo.
- Mãos de Fada: Massagens em Linhares e região! Tântrica relaxante, nuru miofascial, reflexologia, pedras quentes e muito mais. Viva o relaxamento que você merece. Clique aqui!
Vídeo Instagram ES na Fita:
Versão das testemunhas
De acordo com testemunhas, os agentes envolvidos na abordagem agiram com violência desproporcional. O homem imobilizado é o comerciante Eduardo Emerich Rosa, proprietário da loja. Ele afirma que chegou a desmaiar após o mata-leão e que foi levado para a delegacia, mas não foi autuado.
A mulher agredida nas imagens é Jennifer Carolina, esposa de Eduardo e também responsável pelo comércio. Ela relatou que sofreu lesões nas unhas, ficou com hematomas pelo corpo e teve dificuldades para enxergar após ser atingida repetidamente com o spray de pimenta no rosto.
O Folha Vitória teve acesso à versão do casal
“Estava tendo uma festa de São João na rua, que acabou naquele horário. No entanto, a gente já estava indo embora. Estávamos do outro lado da rua com as minhas filhas. Após isso, eu atravessei a rua, parei na frente da loja. O policial me disse que eu não podia trabalhar e que ia me deixar uma notificação. Eu me identifiquei com o meu nome completo e dados pessoais. Depois, eu falei para ele entrar, pois eu iria pegar os documentos, mas, quando eu virei, um dos policiais me arrastou pelo braço, me enforcou e, depois disso, não me lembro de mais nada”, contou o dono do estabelecimento para o Folha Vitória.
“Estava tudo bem. Eles estavam conversando normalmente. Em nenhum momento houve alguma alteração de antes as partes. Mas, depois da agressão, eu já fiquei fora de mim. Além dos policiais que estavam com o meu marido, tinham outros policiais fazendo uma barreira. Quando eu tentei passar, um dos policiais me empurrou brutalmente e eu caí. Eu queria ajudar o meu marido. Outro policial me deu um chute no estômago”, contou a mulher do proprietário para o Folha Vitória.
Entenda o que motivou a ação
Segundo a Polícia Militar, a intervenção foi motivada pelo descumprimento de uma lei municipal que determina o fechamento de distribuidoras de bebidas às 23h. A corporação alega que o estabelecimento continuava aberto após o horário permitido, e que a ação visava cumprir a legislação.
No entanto, os proprietários do local contestam a versão oficial. Eles afirmam que o espaço, anteriormente registrado como distribuidora, foi transformado em loja de conveniência — atividade que, segundo eles, pode funcionar 24 horas por dia. Eduardo e Jennifer informaram que, apresentaram documentos atualizados, alvarás e um laudo do Corpo de Bombeiros que, segundo eles, comprovam a regularidade do novo formato de operação.
O casal contratou um advogado e pretende ingressar com uma ação na Justiça por abuso de autoridade e danos morais.
O que foi passado para a nossa equipe
Nossa reportagem teve acesso ao boletim de ocorrência e, segundo a Polícia Militar, após uma ação que desarticulou um baile que ocorria na Rua Santa Lúcia, no bairro Laranjeiras, por volta das 1h30, os policiais perceberam uma grande movimentação de pessoas se dirigindo à Avenida Guarani, onde gritavam que “o rock agora seria na distribuidora”. Os militares, que estavam a caminho para verificar uma denúncia no bairro Residencial Jacaraípe, passaram pela Avenida Guarani e encontraram mais de cem pessoas aglomeradas no local, incluindo mães com crianças no colo, além de vários indivíduos conhecidos pela polícia por envolvimento com tráfico de entorpecentes na região.
Diante da situação, os militares decidiram contatar o proprietário do estabelecimento, uma vez que, de acordo com a lei nº 6121/2024, o funcionamento de distribuidoras deve ocorrer entre 7h e 23h. Um homem se apresentou ao subtenente da Polícia Militar, afirmando que o local não era uma distribuidora, mas sim uma loja de conveniência, com permissão para operar 24 horas. No entanto, a placa do estabelecimento indicava “distribuidora”, e várias pessoas estavam consumindo bebidas alcoólicas na calçada.
A situação se agravou quando os clientes começaram a hostilizar os militares com palavrões. Nesse momento, a polícia solicitou que o proprietário fechasse o estabelecimento. Segundo os militares, o homem afirmou que estava para nascer um policial que fizesse ele fechar naquele instante, o que deu início à confusão. Funcionários e clientes começaram a xingar os policiais, o que levou à necessidade de uso de spray de pimenta e de força para controlar a situação e encaminhar o proprietário ao 3ª Delegacia Regional da Serra.
O que dizem as autoridades
Em nota, a Polícia Militar alegou que o proprietário tentou resistir à abordagem, o que teria levado os agentes a utilizar técnicas de imobilização. A corporação afirmou ainda que frequentadores do local começaram a hostilizar os policiais, o que motivou o uso de spray de pimenta para dispersar a aglomeração. Segundo a PM, não há registro no boletim de ocorrência de que o proprietário tenha apresentado os documentos que comprovariam o novo enquadramento do estabelecimento.
A Polícia Civil informou que Eduardo, de 38 anos, foi encaminhado à Delegacia Regional da Serra, onde assinou um Termo Circunstanciado por desacato e foi liberado após se comprometer a comparecer em juízo.